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Compadre Rico e do Compadre Pobre,de Adolfo Coelho
Compadre Rico e do Compadre Pobre,de Adolfo Coelho

 _Moravam numa aldeia dois compadres. Um era pobre e o outro rico, mas muito miserável.
Naquela terra era uso todos quantos matavam porco dar um lombo ao abade. O
compadre rico, que queria matar porco sem ter de dar o lombo, lamentou-se ao pobre,
dizendo mal de tal uso. Este deu-lhe de conselho que matasse o porco e o dependurasse
no quintal, recolhendo-o de madrugada, para depois dizer que lho tinham roubado.
Ficou muito contente com aquela ideia e seguiu à risca o que o compadre pobre lhe tinha
dito. Depois deitou-se com tenção de ir de madrugada ao quintal buscar o porco. Mas o
compadre pobre, que era espertalhão, foi lá de noite e roubou-lho. No dia seguinte,
quando o rico deu pela falta do porco, correu a casa do compadre pobre e muito aflito
contou-lhe o acontecido. Este, fazendo-se desentendido, dizia-lhe: «Assim, compadre!
Bravo! Muito bem, muito bem! Assim é que há-de dizer para se esquivar de dar o lombo
ao abade!»
_O rico cada vez teimava mais ser certo terem-lhe roubado o porco; e o pobre cada vez se
ria mais, até que aquele saiu desesperado, porque o não entendiam.
_O que roubou o porco ficou muito contente e disse à mulher: «Olha, mulher, desta
maneira também havemos de arranjar vinho. Tu hás-de ir a correr e a chorar para casa do
compadre, fingindo que eu te quero bater; levas um odre debaixo do fato, e quando
sentires a minha voz, foges para a adega do compadre e enquanto eu estou falando com
ele, enches o odre de vinho e foges pela outra porta para casa.» A mulher, fingindo-se
muito aflita, correu para casa do compadre, pedindo que lhe acudisse, porque o marido a
queria matar. Nisto ouviu a voz do marido e correu para a adega do compadre, e
enquanto este diligenciava apaziguar-lhe a ira, enchia ela o odre. Tinha-lhe esquecido,
porém, um cordão para o atar, mas tendo uma ideia gritou para o marido: «Ah! Goela de
odre sem nagalho!» O marido, que entendeu, respondeu-lhe: «Ah, grande atrevida!... Que
se lá vou abaixo, com a fita do cabelo te hei-de afogar!» Ela, apenas isto ouviu, desatou
logo o cabelo, atou com a fita a boca do odre e fugiu com ela para casa. Desta maneira
tiveram porco e vinho sem lhes custar nada, e enganaram o avarento do compadre.